O campo da literatura é vasto. Existem diversos gêneros, milhares de livros, autores contemporâneos ou do passado. Um primeiro passo para encontrar o próprio estilo no meio desse oceano é a análise das obras que mais nos atraem.

Haverá autores que exercerão forte influência sobre a nossa escrita. O modo como desenvolvem os personagens, o ritmo de narrativa que empregam, a extensão das frases e dos parágrafos: através da leitura atenta, vamos colhendo e internalizando um jeito próprio de escrever.

Ao tomá-los como referência, buscamos construir textos que reflitam as qualidades que nos fascinam nesses autores. A imitação corresponde a uma ferramenta essencial para a criação e o amadurecimento do estilo.

Não se trata, no entanto, de simples cópia ou repetição de uma autora ou autor alheio. Em um mundo transbordante de escritos, repetir apenas leva à saturação e à falta de originalidade. Nesse contexto, imitar corresponde a absorver, desmembrar e recombinar o uso de elementos literários e estruturas narrativas. É o ato consciente de aprender a técnica por trás da admiração.

É como uma loja de sucos que prepara uma vitamina. Pegamos umas uvas de um lugar, um pedaço de maçã de outro, mamão, laranja, e assim por diante, batendo tudo no liquidificador. Experimentamos.

O suco pode sair com um gosto forte de "laranja graciliana" – uma alusão a Graciliano Ramos. Ou de "maracujá linpectoriano" – uma referência a Clarice Lispector. Então, continuamos o processo, enchendo o liquidificador com as frutas anteriores e aquelas novas que a nossa leitura traz.

Por muito liquidificar as influências que sofremos e as imitações que fazemos, vai-se produzindo um suco com um gosto particular e inconfundível. Por meio do trabalho consciente e propositivo, costurando obras e outras fontes de inspiração no texto, é que se forma o estilo de um escritor.

O gerúndio, aqui, tem importância fundamental. A influência e a imitação nunca cessam. Sempre haverá livros e autores que nunca lemos e que, depois de lidos, se incorporam ao nosso modo de escrever, renovando a nossa "receita".

Para os sortudos, alcançar a sintonia de um estilo próprio pode acontecer em um curto espaço de tempo. Para a maioria, contudo, demora: aquela fruta na ponta do galho ainda não amadureceu o suficiente para que possamos colhê-la e usá-la na nossa mistura.