O começo de tudo - Escritor CF Scuo
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O começo de tudo

O começo de um texto é a ponta do fio de uma bola de barbante. Ao puxá-lo, desenrola-se o resto da história. Eis aí um fato inescapável para quem escreve. Tudo se principia de um determinado lugar e tempo.

Isso não significa que o começo da história para quem escreve corresponderá ao começo da história para quem lê. Porque existem esse dois tipos de começo e, com frequência, eles não se equivalem.

Dizem que mais difícil do que escrever o começo de uma história seja escrever o meio ou, então, escrever até o final. Daí a importância, para o escritor ou escritora, de um bom começo, sem tropeços ou obstáculos que atrapalhem o fluxo da escrita.

É feito o momento da largada em uma competição atlética. Seja a corrida curta ou longa, a largada terá sua contribuição para o desempenho, pois auxilia no estabelecimento de ritmo, do tempo da escrita. Em certos casos até determina se a prova será percorrida até a linha de chegada.

Ao se completar o texto, entra-se na segunda etapa: revisar e reescrever. Se o começo serviu de fio de barbante e dele puxamos a história, possuindo importância, portanto, para o processo de escrita, já isso se torna irrelevante.

Nessa segunda etapa, busca-se que a história ganhe autonomia, tenha vida própria. É ela quem ditará as modificações necessárias da trama, dos personagens, da ação ou da estrutura do texto.

Muito comum, quando se começa a escrever, não se ter a clareza de qual caminho a história tomará. E só à medida que se aproxima o ponto final, o texto vai alcançando um corpo apropriado, um todo coerente.

Durante a reescrita, é possível compreender então se o ponto de partida está condizente com o desenrolar da história. Pode-se concluir que sim, e o começo de quando se escrevia coincidirá com o começo de quem lê, talvez introduzindo-se pequenas alterações.

Pode-se igualmente concluir pela mudança no ponto de partida; às vezes, a história começa de verdade em uma passagem muitas páginas adiante - e tudo o que se escreveu até ali, se não reaproveitável de alguma forma na estrutura da trama, acabará eliminado.

Ou, na direção oposta, o manuscrito nos demanda uma reelaboração do início da história, ela talvez precise regredir um pouco mais no tempo, ou incluir elementos até o momento ausentes. Daí se acrescenta um trecho novo ao material, criando-se um começo diferente.

Finalmente, uma fórmula recorrente do mercado editorial ressalta o papel crucial do começo de uma história para captar o interesse do leitor. É a ponta do fio de uma bola de barbante para quem lê.

O começo ajuda a capturar a leitura. Mas constitui um termômetro impreciso para a qualidade de uma obra. Cada uma pedirá um começo particular, de seu lugar e tempo próprios.




Por CF Scuo
Escritor

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