Qual o melhor horário do dia para escrever? Isso interfere na qualidade da escrita ou no sucesso em criar histórias? É possível que sim, mas não existe uma regra.
Para a maioria das pessoas, escrever consiste em um ato marginal, a se realizar entre os muitos compromissos do dia. Encontrar uma hora para sentar e encher páginas - ou telas - de palavras possui, portanto, importância.
Pode-se dizer que as manhãs são populares entre escritores. As criaturas matinais sentem-se mais frescas e alertas cedo, depois de uma boa noite de sono. João Ubaldo Ribeiro, Paulo Coelho e Clarice Linspector deram testemunho de serem escritores da manhã.
O exemplo de Clarice mostra que as manhãs proporcionam uma outra vantagem: um ambiente quieto, ainda imerso em calma e silêncio. Ela aproveitava o horário matutino, em que os filhos ainda estavam dormindo, para escrever.
Muitas pessoas, no entanto, demoram para se engajar com o dia. Nas manhãs estão sonolentas e não conseguem se concentrar. Precisam de um tempo maior para se sintonizarem com o ritmo cotidiano. Alguns aguardam o almoço para que a mente atinja o auge de disposição e concentração.
Outros, logo cedo, enfrentam compromissos de trabalho, estudo ou família. Escritores desse grupo, entre o quais se incluem Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles ou Carlos Drummond de Andrade, elegem as tardes como momento preferido para a escrita.
As tardes, no entanto, são menos flexíveis quanto à acomodação da escrita entre os outros afazeres. À medida que o dia avança, surgem tarefas domésticas e familiares, compromissos sociais e trabalho.
Talvez o período menos comum para a escrita sejam as noites. Isso porque, após vencer um dia inteiro de atribulações, o cansaço pode minar a energia do corpo e a imaginação, ferramenta tão indispensável ao ato da escrita.
Além disso, se a pessoa estiver cansada após um dia de trabalho, pode ser difícil encontrar a energia e a inspiração necessárias para escrever.
Assim como as manhãs, no entanto, as noites também trazem consigo um ambiente de mais tranquilidade, sem interrupções. Clarice Linspector também utilizava o horário da noite para escrever. Outro suposto animal noturno era Graciliano Ramos, que se entregava à literatura findas as responsabilidades do dia.
Talvez esteja aí o maior desafio do escritor: conseguir adequar a prática de escrever ao restante dos compromissos, que, com raríssimas exceções, terão maior prioridade do que a literatura.
Uma boa acomodação do tempo da escrita junto aos demais tempos da vida representa, portanto, o ponto central para que alguém persevere com sucesso na trajetória tão desafiadora de escritor. De manhã, de tarde, de noite, ou no tempo que for.
Escritor
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